Hoje virou uma febre contagiosa, esta tal de violência. Estamos vivendo uma contaminação, uma disseminação global da violência. E sem qualquer controle, sem nenhuma vacinação, a violência segue fazendo
vítimas a torto e a direita.
E se não bastasse todo este clima tenso. Agora virou moda estas motos saírem acelerando pelas ruas da cidade, imitando tiros . Com isto , ninguém sabe ao certo, se tem ou não alguém atirando em alguém.
Tem muitos casos de violência se confundindo com os tiros de motos. Um vizinho ou um parente seu, esta levando tiro na sua porta, e você , pensando que é uma famigerada moto, acaba não fazendo nada, deixando que a vida de seu vizinho, o seu familiar, se perpetre sem nada fazer.
Falando em moto atiradoras, vejam só que me acontece com o Rubén, meu marido. Ele estava passando pelo centrão, nos baixos do viaduto do Chá. Meu saudoso viaduto do Chá, por onde caminhei na minha mocidade, quando ele tinha uma passarela por baixo dele, o mapim do lado. O centro da minha vida passada, enfim.
Meu marido estava parado num congestionamento monstro, no túnel que agora existe no lugar da antiga passarela, debaixo do viaduto do Chá. Este túnel tem um nome, mas agora não me recordo qual. E sem o rádio do carro, pois este havia sido subtraído por um mórbido assaltante, na porta da casa da namorada do meu filho, que esqueceu de tirar o dito cujo, e por isto mesmo rebentaram a porta do carro, e tudo mais que acontece, quando se esquece de tirar o rádio do carro.
Parado no transito. Cansado, depois de um dia inteiro de trabalho estafante. O sono bateu. A calmaria dentro do carro, se igualava com a vida parada la fora. É sempre assim. Entre seis e sete da noite, todos os dias úteis, São Paulo inteiro fica refém do transito.
De repente, surge uma moto atiradora. Por estar cochilando , meu marido não prestou atenção na dita cuja, que parou bem a seu lado. E se de propósito ou não, o motoqueiro atira várias vezes, bem do lado do pobre do meu marido semi- adormecido.
Nossa, foi um tiro certeiro e fatal. Matou na hora o sono do meu marido. O Rubén quase saiu pela janela do carro. Ele foi até o teto do carro, voltou, segurava o volante, soltava, voltava a segurar novamente. Batia a cabeça no assento. Tremia de medo, buscando sem saber, de onde vinha o Tiro. Tiro, Tiro, cadê, onde estão, em quem estão atirando! Em mim...Pisava na embreagem, no breque. Na verdade ele não sabia para onde correr. Foi um vai e vem danado sem sair do lugar..Um desespero testemunhado por vários outros motoristas que, por estarem, despertos, não caíram nesta do motoqueiro, que se foi rindo do pobre do meu marido atordoado pelos falsos tiros. Que gente ruim.
Meu marido quase enfartou, coitado. Precisa disto. Já estamos com a violência batendo a nossa porta, tirando vidas todos os dias. E agora surge estas motos, tirando a nossa paz, nos fazendo refém dos tiros imaginários. Que vida.