
Esta história, como ela própria esta informando, é formulada a partir da metade dos anos de 1970. Ano da chegada de uma família, vinda do interior do Ceará , para o interior de São Paulo. Vocês podem imaginar como deve ter sido a confusão criada por esta de repente mudança de mundo, de vida, enfim, mudança radical da vida de uma criança de nove anos de idade.
Foi entremeio desta e de outras mudanças, que a pequena Vila de
de Ana Dias, foi minuciosamente descrita. E nada ficou sem ser observado. Nada ficou sem ser lembrado aqui na história. Até o cemitério entrou na história, quase como sendo um castelo e não como lugar de gente morta. Por isto observe com atenção, o que uma criança com nove anos de idade, pode imaginar, ou estar imaginando. Tem alguma coisa de real nesta história ou tudo vem do vasto mundo imaginário? Sim. Ana Dias existe. E era um tempo de nove anos de idade. Claro que foi escrito numa linguagem atualisada, para ser melhor entendido. Mas o teor da imaginação, que gira em torno de um canto que a criança acha que é de um pássaro, mas não tem certeza disto. Este núcleo da história esta inalterado.
O curioso, é que, mais ou menos uns dois ou três anos atrás, passamos la pelas banda da pequena Vila de Ana Dias. Foi um verdadeiro choque para mim, rever um tempo dentro de outro tempo. A Vila, na verdade ainda esta sob o manto do atraso. Mas tem lá suas mudanças, mais é muito pouco. Mais, o que mais me surpreendeu de verdade, foi o cemitério. Meu Deus, aquilo ali é o mesmo que vi, há uns quarenta anos atrás? Era.
Falando com um senhor de idade. Ele disse: Olha este foi sempre o cemitério de Ana Dias. Ou seja, ele nunca teve a aparência de um castelo. Castelo! Ora quem foi o maluco que chamou um cemitério de castelo?
A Serra do Canto do Pássaro Encantado
I
Em meados de mil novecentos e setenta, Ana Dias era tida como a vila do "Um".
- Um Armazém.
- Um Colégio.

- Um posto de gasolina.
- Uma estação de trem.
- Uma Serra.
- Um cemitério.
Cemitério.
Único lugar que apresentava condições de se viver. Viver em cemitério?
Pois é. O povo de Ana Dias tinham orgulho de um dia irem morar enterrados naquele cemitério. Pelo menos depois de mortos , eles teriam a bem aventurança de morar em belas mansões, coroadas de belíssimas torres, lapidadas com o mais puro mármore, que se pode imaginar. Sem falar, que todos os dias os mortos recebem lindos ramalhete de flores, coisa que jamais receberiam se ainda estivessem vivos. Quem visita a Vila de Ana Dias, se encanta com a suntuosidade do cemitério. E se comove com a precariedade das casas ao seu redor.
Uma Serra.
Embora Ana Dias fosse cercada por várias serras, só existia uma serra na visão dos habitantes da Vila.
Um Armazém.
Os donos do Armazém, eram, Zé Pernambuco e Maria Portuguesa. Eles tinham os moradores da Serra, como seus melhores fregueses. Por isto vamos ver, como o Zé e Maria os definia:
- Sílvio Raposo, filho número um da Serra. Ele é o maior caçador. E que fique aqui bem esclarecido. Caçador de caçador.
- Romildo Moreno. Morador número dois da Serra. É também uma caçador de caçador, juntamente com o seu irmão do meio, por isto assim chamado, Irmão do meio, porque por último, vem a irmã deles, Conceição Moreno, uma bela criação das matas, que tem uma queda pelo Sílvio Raposo, que por sua vez, não caiu por ninguém, já que lá no armazém, andam falando que na vila esta cheio de meninas caindo aos pés dele.
Do tipo caladão, Sílvio é acanhado por natureza. Viu a Conceição Moreno crescer, mais pouco foram as vezes que lhe dirigiu a palavra. Uma troca de olhar, e ambos sabiam o desejo um do outro. Quando a Conceição queria uma goiaba, bastava ela olhar para ele, que em poucos minutos, ela tinha as mãos cheias de goiabas. Ela adorava, quando ele corria para disputar com os outros meninos, as melhores amoras para lhe trazer.
Mas um dia ela passou dos limites. Caminhavam, ela juntamente com os irmãos, Sílvio e uns amigos, por uma estrada, bem lá no alto das Serras. Ela viu algumas amoreiras, carregadas de amoras bem vermelhinhas. Percebendo que o tempo todo, os meninos, incluindo Sílvio, disputavam um lugar ao lado dela, lançou um desafio: - Aquele que lhe trouxesse as melhores amoras, seria o escolhido para ficar ao seu lado.
Sílvio naturalmente ganhou. Isto depois que ele e os outros garotos, irem parar dentro de um riacho de águas frias que passava no final da ribanceira onde ficava as amoreiras. Sílvio só percebeu que era uma cilada, após estar despencando do alto com os outros garotos, direto dentro rio, que naquela hora da manhã deveria esta com a água perto de zero grau positivo. Fria, muito fria as água de qualquer riacho ali na serra aquele horário da manhã.Os irmãos se acabavam de rir com as travessuras da irmã.
Foram-se os tempos de intensas paixões superficiais e travessuras. Ficaram as lembranças dos bons tempos ao lados dos Irmãos moreno, pensava Sílvio, absorto nos devaneios, sentado na varanda de sua velha cabana.
Sílvio Raposo trancou seus sentimentos. E nada o fazia desistir desta sua decisão. Mesmo partindo da sua melhor amiga, Maria Portuguesa, que intercedeu por uma moça da vila, que se dizia, apaixonada por ele. Só mesmo o tempo para mudar o que ele mesmo criou, dentro da cabeça de Sílvio Raposo.
II
A Vila de Ana Dias é ligada a Serra, por uma estrada íngreme. Esta estrada sobe se contorcendo por entre as matas, e é cortada aqui e acolá, por cascatas cristalinas, que vem do coração das matas, trazendo segredos infinitos; que não podem ser declamados, e apenas, tão somente apenas, murmurados pelas águas cristalinas que deslizam morro a abaixo, cortando a estrada em diferentes trechos. Depois de descer a serra , este mesmo riacho, sai cortando plantações de bananas inteiras, feito um bolo, vertendo a seguir, suas águas cristalinas, em canais da pequena vila, para logo em seguida ir morrer dentro do mar. É por isto que o povo acha que o mar é um gigantesco deposito de segredo do mundo. Pois ele , tão somente ele, tem o poder de receber todos os desagúes dos rios do planeta. E como todo rio carrega segredos. Imaginem a quantidade de segredos da vida que o mar carrega. E não é a toa que ele é maior que a terra.

Mas não é só o mar que esta cheio de segredos e mistérios. A Serra de Ana Dias, também esta repleta de mistérios. Vale citar aqui, um misteriosos caso que vem dividindo opiniões, entre os moradores da Serra e os viventes da Vila. Se trata de um sonoro canto que sai de dentro das matas que cobrem as Serras de Ana Dias. E como nunca foi visto quem de fato esta emitindo o tal canto. Não se pode dizer que é de um pássaro, como tem alguns que dizem que é. Ou de um animal qualquer das matas, como outros afirmam também ser. Ou de outros seres invisíveis, como também alguns arriscam a dizer que é. Mas que a verdade seja dita. Ninguém no entanto, tem a menor ideia de onde vem o tal canto. Mas vem aqui: É um canto ou um grito? Até que não se prove, continua a ser um canto. Que a verdade também seja dita. É um sonoro e lindo canto das matas. Mas que até o presente instante, ainda não foi identificado, a criatura que o esta emitindo.
Mas os filhos da Serra, tem suas opiniões formadas. Sílvio Raposo, tido como filho número um da Serra, com seus quase trinta nos de vida selvagem. Conhece cada centímetro dos altos da Serra. Mas nem por isto esta cem por cento certo das coisas que acontecem no interior daquelas matas. E apenas arrisca a dar o seu palpite:
- O Pássaro não existe. Mas, e o canto? - Pode ser de qualquer animal. Menos de um pássaro.
Para Romildo Moreno, filho número dois da Serra. Fala com quase certeza:
- Este é um canto de pássaro sim com certeza. Um canto com esta magnitude, jamais poderia estar saindo da boca pequena de uma raposa. Muito menos da goela estreita de um ouriço.
Para o Irmão do meio. Ele acha que neste mundo, para tudo existe uma explicação. E claro, este é uma caso típico que se resolve explicando com bastante clareza:
- Um canto que estar no ar que respiramos. Na luz que nos alumia. E ninguém ver o seu emissor. Claro que só pode se tratar de um espírito. Alguém já viu um espírito? Claro que não. São os espíritos guardiãs das matas e das florestas . Sabia que estes espíritos podem ficar zangados . Um conselho. Deixe um vivente zangado; mas nunca, nunca deixe um espírito zangado. Coisas terríveis podem lhe acontecer, se você deixar um espírito zangado. E sabe quando é que os espíritos das matas ficam zangados? Quando derrubam as árvores. Matam os animais das florestas e das matas. Queimam e destroem sem precisão, florestas e matas inteiras. Tudo isto perturba a paz dos espíritos e os deixam profundamente irritados. Por isto tome muito cuidado para não ter a vida desgraçada pela maldição dos espíritos das matas.
Conceição Moreno foi além, ao dizer:
- O canto é de um pássaro. Mas ele é tão pequeno, mais minúsculo mesmo, que ao emitir o seu canto, é engolido pelo próprio canto. Sendo assim, ninguém o ver. E por isto só existe o canto.
Estas opiniões não convenceram, e o mistério do canto desceu até a Vila, que não se incomoda em ter mais "UM" na sua coleção.
No armazém do Zé Pernambuco, houve um bafa fá; e até gente que estava nos ares, depois de entrar de cara na caninha, entrou de solavanco na conversa:
- Amigos... Isto é... Cantoria... Gente de...Outro mundo.
Vem aquele que acha que diz, e não diz nada:
- O Pássaro que canta, está; quem sabe dizer, sabe onde.
Mas de repente chegou um lá da estação, revoltado porque perdeu o trem das onze, e desabafa:
- Meus amigos, este é um canto de um pássaro. E ele esta cantando que toma conta das matas. E diz que para cada pé de árvore que for cortado neste mundo, ele lançará uma maldição sobre a terra. E a maldição, é uma terrível seca. Ele diz no canto, que até os oceanos iram secar, se todas as árvores do planeta forem cortadas. Que terrível.Todo mundo vai morrer de sede. É uma morte horrível. Não que a morte seja bonita. Mais morrer de sede. Ninguém merece.
O Zé Pernambuco não ver a hora de falar, por que acha que o que tem a dizer, vai derrubar todas aquelas tese ali colocadas. E finalmente chega a sua vez de falar:
- Pensem bem meus pobres homens. Olhem para o alto daquelas Serras quase encostando la no céu. Esta claro que elas podem estar tendo contatos extra-terrestre. Portanto, presume-se que parte dos sons provenientes destas matas, podem estar saindo de bocas de viventes de outros mundos. Quem sabe a noite, naves tripuladas por seres extra-terrestres, resolveram baixar no topos daquelas Serras, e fizerem amizades com alguns índios, ou macacos. Experimentaram nosso cafézinho. E depois disto, quem sabe, teve alguns que se apaixonaram por alguma indiazinha ou uma macaquinha, e estão por ai, catando de alegria dentro das nossas matas.
Por causa deste comentário , o Zé levou um puxão se orelha da mulher. Maria limpou o balcão, e as mentes dos presentes, com este cometário:
- Meu povo, no meio daquelas matas, existe canto e mais cantos. Cantos para todas as imaginações. E o canto deixará de ser ou não encantado, a partir do momento que qualquer um quiser. Se é de um pássaro ou não. Tudo vai depender de quem estiver ouvindo. Ou seja, todos nós temos o direito de pensar o que quiser de qualquer coisa nesta mundo.
III
De volta para a Serra. Final de mais um dia. O sol esta mergulhando lentamente atrás dos arvoredos lá no linear das serras. Na varanda de sua cabana, Sílvio acaricia o último raio de sol pousado no pilar que sustenta sua moradia. Mas este escapa por entre seus dedos, e vai pousar sobre o pé de goiabeira, para logo em seguida, desaparecer por completo.
Se sentindo solitário, Sílvio caminha sem rumo, na direção do por do sol. Mas nesta tarde, já com cara de noite, bateu no seu coração de caçador, uma vontade caçar algo para distrair o seu tempo, que esta com todo o tempo do mundo, para fazer o que quiser de sua vida.
Observa por alguns instantes, o voo solitário de um pássaro, migrando de uma serra a outra, na busca de um lugar seguro para pernoitar. Como o pássaro, Sílvio também, esta a busca de um lugar para ir. Não chega a esmiuçar muito. Logo pensa em algo. O velho casarão branco abandonado. Este lugar precisa estar sob constante vigilância, devido ao seu estado total de abandono. Muitos caçadores de animais, adentram as matas, e vendo aquele casarão desabitado, pensam que podem ficar e fazer o que bem entende das matas. Mas se enganam. Ali esta ele, sempre atento a tudo que pode machucar ou depredar suas tão amadas florestas de matas intensamente verdejantes e ricas em flora e fauna, Sílvio Raposo, filho numero um da Serra.
A noite esta devidamente escura, e a picada por onde vai passar, esta invisível. Somente uma pessoa que conhece bem a região não corre o risco de se perder. Familiarizado com os sons que vem lá de dentro da mata escura, ele apenas fica atento, quando um galho seco de árvore se quebra inesperadamente. Serve apenas para aumentar ainda mais sua ansiedade de estar frente a frente com o desconhecido. Mesmo que o desconhecido, não passe de uma velha raposa apressada, que sem enxergar direito, pisou num galho seco de árvore, que pôs fim a sua pressa.
Enfim chega ao lugar onde o casarão se encontra. Ele se encontra totalmente submerso no matagal que cresce em todo o seu entorno, deixando a amostra apenas alguns vestígios de suas velhas paredes brancas, visível até em noites escuras como a que esta fazendo.
Há muito silencio no ar. Impossível que haja alguém por ali, pensa Sílvio fazendo um minucioso estudo da área. Um dos vestígios que costuma denunciar a presença de caçadores, são seus cães. E deste não há qualquer sinal. Ele dar mais uma olhada, e verifica que aquele lugar esta tão límpido de caçador, quando o céu de nuvens. É o que ele constata naquele instante, ao se voltar para o céu.
Esta prestes a deixar o lugar, mas algo acontece. Uma tábua cai no chão da varanda que esta a pouca distancia de onde ele se encontra. Observa sem muito interesse, o possível motivo da queda do obejto. Pode se tratar de algum animal de pequeno porte que invadiu o local em busca de abrigo. Mas nada ver. Ou melhor, parece-lhe que esta vendo algo . Sílvio se esconde rapidamente atrás de um robusto arbusto. Havia uma coisa branca se movendo la na varanda. Depois de fazer uma minuciosa observação, descreve a si mesmo.
" Se trata aparentemente de uma mulher. Ela esta com um xale branco cobrindo as costas. É o que parece."
Quando o vulto desconhecido, abre silenciosamente uma pequena portinhola para sair da varanda, Sílvio respira aliviado:
- A bom, pensei que ela fosse flutuar. E sendo assim, ela não é um fantasma, como eu estava a ponto de achar que era. Era só o que me faltava. Sílvio Raposo, homem valente, estar vendo fantasmas agora. O que vão dizer o pessoal la do armazém, se uma coisa dessas chegar ao ouvido deles.
E quando ele se deu conta, o vulto havia desaparecido na escuridão. Ele fez uma busca rápida. Mas logo desistiu. Era mesmo que procurar uma folha seca caindo na escuridão.
Pela manhã Sílvio voltou a casa. E nada estava fora do lugar. Tanto no interior, como fora da casa. Nada indicava que havia alguém morando na casa, como ele a principio desconfiou.
Mas ao retornar a noitinha, la estava ela. Igualmente, como a tinha visto na noite anterior. E assim os dias estavam se repetindo. E a estranha pessoa, era sempre a primeira a chegar.
Sílvio esperou pela noite de lua cheia. Neste dia a mulher vai ser enfim desmascarada, pois nada fica invisível na noite de lua cheia. Estava decidido a enfrentar a mulher fantasmagórica. No fundo, criara uma estranha intimidade com aquela desconhecida. E promete que vai fazer de tudo para não perturbar a paz dela.
Não sabia de onde ela era, muito menos quem ela era. Isto de certa maneira era envolvente. Estas obscuridades, ele fazia questão de deixar que ela mesma resolvesse, se iria ou não contar.
Em fim é noite de lua cheia. Sílvio já esta apostos. Teme que esta noite, seja a última, daqueles encontros, nada normais, mais que de uma certa forma esta alimentando seus dias com fome de gente para conversar, e viver.
Amparado pelos arbustos, e perdidos nos sues devaneios, quando Sílvio se deu conta a estranha criatura já estava no lugar de sempre. Notou que ela estava sem o xale, e seus cabelos eram longos, e estavam entrelaçados por uma longa trança. Se mantinha sempre voltada para a parede. De certo que ela estava consciente da presença dele, e que hoje ambos finalmente iriam se falar pela primeira fez, depois de quase uma semana de encontro.
Sílvio sai do seu abrigo, e segue pisando forte nas folhagem secas que estão por toda a parte, em volta do grande casarão branco abandonado. Para próximo da portinhola. Fala meio que entre cortado:
- Boa noite. A moça esta afim de se apresentar. O que a senhorita esta fazendo esta hora da noite neste lugar?
Ele espera por uma resposta, que parece que não ia ter. Diante do persistente silencio, Sílvio volta a interpelar a jovem:
- Esta bem. Se não quer se identificar, diga apenas se é moradora ou não da Serra.
Desta feita a moça resolve se manifestar, apenas com uma leve indicação com a cabeça, confirmando que era moradora da Serra.
- A, então você é moradora da Serra? Mais quem é você afinal. E me parece que você é mesmo daqui. Pois somente alguém conhecedora destas paragens teria a coragem de enfrentar estas matas escuras e cheias de bichos de certa forma selvagens.
Mas novamente o silencio voltou a separá-los. E deste vez Sílvio ficou aliviado com a inesperada manifestação da jovem. Uma voz quase que em sussurro, diz:
- Amanhã, no entardecer, me espere debaixo daquele pé de limoeiro, que existe no lado esquerdo desta casa. E quando o pássaro encantado cantar pela segunda vez, eu vou estar lá. Agora volte para onde você estava.
Sílvio voltou rapidamente para sua cabana. Passou a noite em claro. Seus olhos se recusavam a se fechar, porque tinham medo de dormir e nunca mais acordar daquele, que parecia um sonho. Se existia loucura, Sílvio se considerava um louco. Isto estava parecendo magia proveniente daquele canto. Pois onde já se viu. A moça estava deixando que aquele canto que tanto ele teme, regulasse o primeiro encontro deles. Isto era inadmissível. Mas, no mesmo instante, era aceitável . Sílvio queria muito tocar aquela mulher. Estava doido por ela. E nada no mundo era mais assustador, do que aquele amor que estava sentindo por aquela estranha. Portanto, o canto assombrado, já não era assim tão assombrado. Mas aquele amor sim, era a coisa mais assustadora que estava sentido na sua vida. Estava com medo de se encontrar com ela. E se ela não fosse de verdade? Ai sim, ele enlouqueceria de vez.
E na hora marcada, Sílvio estava no local que a estranha criatura havia lhe indicado. Até limpou os baixos do limoeiro. E quando o sol estava quase que inteiramente submerso no horizonte, soou nalguma parte das matas fechadas, um som deslumbrante, único. Parecia que tudo silenciava, perante aquele canto. Nada mais além do verdes das árvores, existia. Outros pássaros, grilos, insetos, tudo, tudo silenciava, quando o canto estranho soava ali na mata. E pela segunda e terceira vez o canto se ouviu. E e a moça, não surgiu.
E se passaram dias , semanas e meses. Sílvio estava perdendo completamente o juízo. E foi obrigado a desvendar o seu segredo para sua amiga lá da Vila.
Maria Portuguesa, penalizada com o estado em que se encontrava o amigo, contou para o marido a desventura do filho número um da Serra. E logo os fregueses do armazém, se aglomeraram, e passaram a discutir, acerca do assunto. Um velho freguês, alertou:
- Fantasmas? Mas o caçador é la homem de se amendontrar. Ele estava era sendo enganado. Tenho certeza que era alguma caçadora disfarçada de fantasma.
Um dos homem pede mais um copo de caninha. Bota pra dentro a danada, e fala com ar de autoridade:
- Onde tem fumaça, tem fogo. E tem coisa nesta história. Uma mulher, que não foi vista por mais ninguém. Isto é coisa de pássaro de canto encantado. Gente o pobre moço pode estar encantado. Quer encontrar uma mulher que só existe no seu imaginário. Aposto que foi o canto encantado, que fez isto.
Vem o coveiro da vila. Todos dão a vez ao rei da sabedoria. O Zé serve rapidamente um copo de rabo de galo para o ilustre orador. O homem toma de uma só golada o líquido. Raspa a garganta, solta um produto grosso amarelado la no meio da calçada, e fala, agora com a voz limpa:

- Eu, levando tantos anos enterrando gente neste cemitério de Ana Dias. Já vi de tudo. Ouvi de tudo. Enterrei gente de todas as idades. Enterrei rico, e pobre aos montes. Enterrei também um montão de cachaceiros...ehehehe. Houve alguns protestos repreendendo o comentário, mais logo ele deu prosseguimento. - E enterrei muitas mulheres bonitas. Haaa! Suspiraram de dó as bocas ébrias. Mas, o coveiro olha para todos os lados, e segrededa para os seus ouvintes: - Dizem que quando as mulheres bonitas morrerem, elas voltam para assombrar os homens. Pode ser que o morador número um da Serra esteja sendo assombrado por uma destas mulheres. Huuuuuuuuuuu!
Houve muitas queixas contra o coveiro. Ele não passava de um falador desrespeitoso. Outros questionavam o real destino das mulheres bonitas quando morriam. E o bate boca se seguia sem hora para acabar. E pelo jeito a Vila do Um tinha assunto para muitos e muitos dias.
IV
Enquanto isto lá na Serra.
Sílvio Raposo esta desolado. Tão cedo não vai por os pés la na Vila. Esta arrependido de ter falado do ocorrido com sua amiga Maria portuguesa. Estava sofrendo todos os tipos de zombarias, por partes dos clientes do armazém. Desenganado, se esta for a sua sina, ficará para sempre com o coração partido, e solteiro para sempre. Se casar. Só se for com a moça da noite de lua cheia.